Era uma vez uma mulher. Uma mulher linda, de cabelos negros e encaracolados, de pele branca e de esperanças transbordantes. Sonhava com o príncipe encantado, em cavalgar em seu cavalo branco uma cavalgada romântica, a dois, viajar por todo o mundo, conhecer os mistérios do universo, e chegar ao fim do "Foram felizes para sempre".
Era uma vez uma mulher destemida, corajosa, sonhadora, simples mas encantadora, que conheceu o príncipe encantado. Ele com sua capa vermelha, seu cavalo branco, sua espada reluzente, sua armadura bem polida, sua coragem, sua mania de ser imprevisível, e sua família real. Ele com pensamentos críticos, viagens, loucuras, filosofias, ideologias, que a conquistaram e a fizeram se apaixonar completamente.
Era uma vez uma mulher, linda como uma singela noite de lua cheia que montou no cavalo branco do príncipe encantado. Dali pra frente ela só esperava o final feliz, mas ele não veio.
O cavalo ficou menos branco, mais encardido. Tornou-se um pagaré pé de pano. A armadura ficou fosca e arranhada, amassada das batalhas da noite. A capa era de um vermelho desbotado e tinha alguns furos, buracos e pedaços faltando. A espada, prima da excalibur, virou um punhalzinho de quinta e mal amolado. As vitórias contadas com tanto orgulho não passavam de meros empates e a vida era simples, tão simples quanto a de um camponês.
Mas nada disso era o bastante pra mostrar a realidade para essa mulher que vivia seu próprio conto de fadas. Nada disso curava as córneas esperançosas de seus olhos brilhantes.
Era uma vez...
Era uma vez um príncipe nem tão encantado assim, com uma esposa meio cegueta. E então o príncipe parou seu cavalo em um campo aberto, desceu dele, tirou seu elmo e foi tomar uma cerva com os amigos. A mulher esperou, chamou seu nome, se iludiu por um bom tempo, tomou umas xícaras de café, jogou uma biribinha, até que ela se cansou. A mulher que de tanto esperar se revoltou. Desceu do cavalo, correu para sua independência e viveu feliz para (quase) sempre.
O príncipe em uma atitude desesperada ao ver sua (ex)esposa lhe dar as costas e partir, montou em sua ovelha (teve que vender o pangaré para pagar a conta do bar), e saiu em desabalada carreira. Mas era tarde. Nem choro, nem sua tristeza, nem suas súplicas, nem suas juras de amor, nada disso era suficiente. O princípe perdeu sua paixão encantada e a mulher casou com sua falta e finalmente encontrou seu caminho, nem tão encantado assim.
Hoje em dia ele afoga suas mágoas em dois ou três engradados de cerveja por dia e ela trabalha igual a um burro de carga esperando pelo próximo príncipe encantado. E no fim nem tudo é tão feliz assim e nem dura pra tanto sempre...
Pense...
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